Fim da escala 6×1 seria desastre para indústria de construção, diz entidade do setor

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Mortes de trabalhadores por acidentes crescem 35% na Paraíba em um ano — Foto: Biné Morais/O Estado

O fim da escala 6×1 seria um desastre para o setor de construção, mais do que para qualquer outro, segundo Eduardo Aroeira, vice-presidente da Cbic (Câmara Brasileira da Indústria da Construção). Ele afirma que seria preciso arrumar mais trabalhadores para não haver queda de produtividade e atraso em obras —no entanto, não há mão de obra para isso, diz. “Não temos esses trabalhadores.”

“Estamos, hoje, praticamente em pleno emprego e nossa grande luta não é empregar pessoas e, sim, o aumento de produtividade. A alteração da escala neste momento, em que temos uma produtividade baixa e uma necessidade de entrega, principalmente de unidades de interesse social, com certeza, no máximo, geraria o desemprego ou a informalidade”, diz Aroeira, em entrevista coletiva na manhã da segunda-feira (18).

“Na verdade, a discussão prioritária, no nosso interesse, é como a gente pode melhorar as condições dos trabalhadores, com aumento de produtividade, formas diferentes de construir”, afirma.

Responsável por gerar mais de 17 mil postos de trabalho em setembro, segundo dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), o setor da construção enfrenta uma das maiores crises de escassez de mão de obra, especialmente pela falta de qualificação e pelo desinteresse dos jovens em suportar as condições de trabalho nos canteiros.

O resultado é uma força de trabalho envelhecida, como mostra levantamento da entidade. Segundo o estudo da Cbic, a média de idade dos trabalhadores subiu de 38 anos, em 2016, para 41 anos, neste ano. No estado de São Paulo, a idade subiu para 43 anos e, em sua maioria, o trabalhador atua por conta própria, de modo informal, cerca de 38,8 horas semanais e teve renda média mensal de R$ 2.552,99 em 2023.

Apesar da falta de mão de obra, o setor segue batendo recordes de crescimento em meio a uma demanda aquecida. De acordo com a Cbic, no último trimestre, houve alta no número de lançamentos e de vendas em relação ao ano anterior.

O vice-presidente de indústria imobiliária da Cbic, Ely Wertheim, diz lamentar que a proposta esteja em discussão “num país pobre como o Brasil, onde as pessoas precisam de renda, precisam de trabalho”.

“Os países asiáticos que saíram de uma trajetória de pobreza muito grande se fazem pelo trabalho. Trabalho é uma atividade importante para o ser humano, enriquece a vida”, afirma.

“A gente devia estar era produzindo, aumentando a produtividade, investindo em capacitação, empregando, entregando as coisas no prazo —não só apartamento, vale para qualquer indústria, para qualquer serviço. Acho que vai ser um desserviço ao Brasil se a gente fizer isso [aprovar o fim da escala 6×1]”, completa Wertheim.

A escala de trabalho 6×1, na qual o descanso remunerado ocorre apenas uma vez na semana, virou alvo de uma proposta da deputada Erika Hilton (PSOL-SP), que quer mudar a Constituição para alterar a jornada dos trabalhadores.

O texto da PEC propõe alterar o artigo 7º da Constituição, no inciso 13, que trata sobre a jornada de trabalho. A sugestão é de jornada de quatro dias semanais, medida adotada em alguns países do mundo e que chegou a ser testada no Brasil por algumas empresas.

Na última sexta-feira (15), feriado da Proclamação da República, atos de apoio ao fim da escala 6×1 ocorreram em capitais de todas as regiões do país. Os manifestantes compararam a jornada de 44 horas à escravidão.

Mesmo com a resistência de diversos setores, a PEC já ultrapassou o mínimo de assinaturas necessário para ser protocolada e começar a tramitar na Câmara dos Deputados, segundo a deputada Erika Hilton. Uma vez protocolado e com a conferência das assinaturas, o texto seguirá para a CCJ (Comissão de Constituição, Justiça e de Cidadania), que analisará a admissibilidade da proposta.

 

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