Alckmin diz que prioridade é reverter sobretaxa de Trump até agosto, mas não descarta pedido para prorrogar prazo
O vice-presidente Geraldo Alckmin — Foto: Reprodução/Canal Gov
O vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) afirmou na terça-feira (15) que a prioridade do governo Lula (PT) é reverter a sobretaxa imposta por Donald Trump, dos Estados Unidos, antes que ela comece a valer, em 1º de agosto, mas disse que pode pedir a prorrogação deste prazo, se for necessário.
O adiamento foi proposto pela CNI (Confederação Nacional da Indústria). A entidade e outras do setor produtivo se reuniram com Alckmin e outros ministros na terça-feira (15) para tratar do assunto.
“Nós queremos resolver o problema o mais rápido possível. Se houver necessidade de mais prazo, vamos trabalhar nesse sentido”, afirmou o vice-presidente, após o encontro.
Após a reunião da tarde, com representantes do agronegócio, Alckmin enfatizou que setores como frutas, café e carne bovina têm produtos já em processo de exportação para os Estados Unidos, o que demanda urgência nas providências e que, por isso, o objetivo é não precisar pedir o adiamento do prazo.
“A ideia do governo não é pedir que o prazo seja estendido, mas é procurar resolver até o dia 31. Então o governo vai trabalhar para tentar resolver e avançar nesse trabalho nos próximos dias”, disse.
Alckmin afirmou que a partir desta quarta-feira (16) deve ter reuniões com a Amcham (a Câmara Americana de Comércio para o Brasil), com empresas dos Estados Unidos, com a indústria química, com o setor de software, a Organização Brasileira das Cooperativas, a Confederação Nacional da Agricultura, a Confederação Nacional do Comércio e centrais sindicais —citando a Força Sindical, a CUT (Central Única dos Trabalhadores) e a UGT (União Geral dos Trabalhadores).
O presidente da CNI, Ricardo Alban, defendeu que o Brasil não adote medidas de retaliação.
“O mais importante [que foi definido na reunião] também é que o Brasil não pretende ser reativo intempestivamente. Nós entendemos dessa reunião que o Brasil não se precipitará de forma em medidas de retaliações, para que elas não sejam interpretadas como simplesmente uma disputa”, disse.
Alckmin defendeu que o setor produtivo brasileiro ajude no diálogo com as empresas dos Estados Unidos, uma vez que a economia dos dois países deve ser prejudicada com a tarifa.
“A exportação dos Estados Unidos ao Brasil é três vezes mais do que a nossa exportação [para eles], portanto é totalmente incompreensível a decisão da tarifa”, disse Alckmin.
O vice-presidente também disse que espera há dois meses uma resposta dos EUA sobre uma carta enviada pelo Brasil que trata de acordos comerciais, e que pretende cobrar uma devolutiva do governo Trump. Alckmin sinalizou ainda ter dificuldades de encontrar um interlocutor americano para as negociações.
Representantes destes setores detalharam os possíveis impactos para a produção brasileira, e dizem que a taxação deixaria inviável a exportação para os Estados Unidos.
Roberto Perosa, presidente da Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes), afirmou que o hambúrguer nos EUA, segundo maior comprador brasileiro (atrás da China) deve ficar mais caro. Atualmente, segundo ele, há cerca de 30 mil toneladas já produzidas de carne e que estão em portos ou embarcadas, o que equivale a cerca de US$ 150 milhões em produtos.
Ibiapaba Neto, presidente da Citrus (representante de produtores de laranja), disse que o Brasil acabou de iniciar sua safra, que dura até janeiro, o que gera uma grande incerteza sobre como direcionar a colheita.
Mais urgente é a situação da manga, descrita por Guilherme Coelho, presidente da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frutas. Ele relata que a safra foi planejada há seis meses e tem nos EUA um de seus principais destinos. Hoje, há 2.500 contêineres destinados ao país e não há possibilidade de direcioná-los para outros mercados.
De acordo com Fernando Pimentel, presidente da ABIT (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção), todos os empresários que participaram do encontro adotaram o mesmo tom: o de que é necessário negociar à exaustão antes de pensar em medidas retaliatórias. “Também ficou definido o envolvimento do setor privado com suas contrapartes nos EUA”, disse.
Os empresários ainda cobraram agilidade nos acordos do Mercosul com União Europeia e com a EFTA, bloco que reúne Suíça, Noruega, Liechtenstein e Islândia, para facilitar caminhos alternativos de exportação.
Na abertura da reunião, Alckmin também defendeu que as negociações sejam focadas em fatores econômicos, e não judiciais.
“Primeiramente, [temos que] separar questões de natureza jurídica”, disse. “A separação dos Poderes é pedra fundamental do estado [democrático] de direito, o governo não tem ação sobre outro Poder, e em relação à questão das tarifas, trabalhamos para reverter.”