Brasil elegeu 27 vereadores e vereadoras trans em 2024, menos que em 2020; conheça os eleitos

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Natasha Ferreira (PT) travesti eleita vereadora em Porto Alegre. — Foto: Campanha/ Divulgação

O Brasil elegeu 27 vereadores e vereadoras trans nas eleições municipais, realizadas no último dia 6 em todo o país.

O número é menor que o de 2020, quando foram eleitas 30 pessoas trans. Porém, considerando toda a comunidade LGBTQIA+, o total de prefeitos e vereadores mais que dobrou no período, e passou de 97 para 225.

As informações são do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), divulgadas em levantamento da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra).

Dessas candidaturas, foram eleitas:

  • 26 mulheres trans;
  • e um homem trans: o vereador Thammy Miranda (PSD-SP).

Natasha Ferreira (PT) (foto em destaque) travesti eleita vereadora em Porto Alegre, defende que o resultado nas eleições deste ano representa um avanço político, porém, somente mais um episódio da luta das pessoas trans e travestis do país.

“Esse número pode parecer pequeno. Mas, no país que pelo 6º ano consecutivo lidera o ranking de países que mais matam pessoas trans, ao mesmo tempo que mais consome pornografia, o índice tem um significado muito importante”, destaca a vereadora.

  • Em 2024, 967 candidaturas trans foram registradas em todo o país.

Os dados passaram a integrar a base de dados da Justiça Eleitoral neste ano após, pela primeira vez, os candidatos precisarem informar orientação sexual e identidade de gênero ao TSE.

Mas, em dados globais, ainda não existem registros do tamanho da população trans no Brasil.

O cenário, contudo, pode mudar neste ano. Pela primeira vez na história, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) está produzindo um censo para registrar a população trans, travesti e não-binária do país.

Representatividade na política

Kátia Tapety primeira travesti eleita no Brasil, Thammy Miranda primeiro homem trans eleito e Erika Hilton e Duda Salabert primeiras deputadas federais trans do país. — Foto: Karla Holanda/Redes sociais /Ana Flavia Barbosa/ Redes sociais
Kátia Tapety primeira travesti eleita no Brasil, Thammy Miranda primeiro homem trans eleito e Erika Hilton e Duda Salabert primeiras deputadas federais trans do país. — Foto: Karla Holanda/Redes sociais /Ana Flavia Barbosa/ Redes sociais

A inserção das pessoas transexuais e travestis na política é recente. Em 1992, Kátia Tapety foi a primeira transexual a se eleger para um cargo político no Brasil.

Filiada ao PFL, ela foi eleita vereadora de Colônia do Piauí (PI), município a cerca de 300 km da capital, Teresina. Ela permaneceu no cargo até 2000. Em 2005, assumiu a função de vice-prefeita da cidade.

Quase três décadas depois, em 2020, Thammy Miranda (PSD-SP) se tornou o primeiro homem trans eleito em um cargo político no Brasil. Em 2024, ele foi reeleito como vereador de São Paulo.

  • Atualmente, Erika Hilton (PSOL-SP) e Duda Salabert (PDT-MG) são as primeiras mulheres trans a ocupar o cargo de deputadas federais na Câmara dos Deputados.

Duda disputou a prefeitura de Belo Horizonte (MG) nas eleições deste ano, mas não conseguiu uma vaga no segundo turno. A disputa ficou entre Bruno Engler (PL) e Fuad Noman (PSD).

Conheça os eleitos

27 pessoas trans foram eleitas em todo Brasil, número é menor do que o ano de 2020. — Foto: g1
27 pessoas trans foram eleitas em todo Brasil, número é menor do que o ano de 2020. — Foto: g1
  • Natasha Ferreira (PT): Porto Alegre (RS)

Antes de investir na carreira política, Natasha sempre foi ligada a movimentos estudantis. Aos 13 anos, decidiu iniciar sua transição. Processo que, para ela, foi um catalisador para sua presença ativa politicamente.

A vereadora se elegeu ao cargo pela primeira vez este ano, mas já havia assumido o posto como suplente.

Entre as pautas prioritárias, ela defende a luta contra o agravamento das mudanças climáticas, a formação contínua de professores e os direitos da comunidade LGBTQIA+.

  • Mônica de Assis (Solidariedade): Turiaçu (MA)
Mônica de Assis (PR), eleita vereadora em Turiaçu, cidade do interior do Maranhão. — Foto: Arquivo pessoal
Mônica de Assis (PR), eleita vereadora em Turiaçu, cidade do interior do Maranhão. — Foto: Arquivo pessoal

Eleita no município de Turiaçu, uma cidade com menos de 40 mil de habitantes, a vereadora é símbolo de resistência sendo a primeira mulher trans a retificar o nome social na cidade. Ela também é a primeira mulher trans eleita vereadora na história do estado de Maranhão.

De origem humilde, Mônica foi cozinheira em uma casa de família rica. Com auxílio deles, montou seu salão de beleza e atuou como cabeleireira até se interessar pelo meio político.

Questionada sobre as principais pautas, a política maranhense reforçou a importância de garantir igualdade de direitos e acessos para todos.

“Quero lutar por todas as pessoas que, assim como eu, um dia não tiveram oportunidade por virem de origem humilde. Minha vida foi transformada e agora quero mudar a perspectiva do meu município”, declarou.

Entre as principais pautas defendidas por Mônica, estão a defesa da empregabilidade para as pessoas de baixa renda, direito a saúde pública de qualidade e dos direitos da comunidade LGBTQIA+.

  • Pamella Araújo (Podemos): Ceará (CE)
Pamella Araújo (Podemos) primeira mulher trans eleita vereadora em Sobral. — Foto: Arquivo pessoal
Pamella Araújo (Podemos) primeira mulher trans eleita vereadora em Sobral. — Foto: Arquivo pessoal

Pamella é a primeira mulher trans vereadora de Sobral. Ex-professora de educação física, ela tem como principais focos a melhoria da educação e a luta pelos direitos dos professores.

Dentro da trajetória política, a vereadora enxerga que é fundamental que pessoas trans se interessem e se insiram na política, para que possam ocupar espaços e lutar por um Brasil com menor índice de mortalidade de pessoas trans.

“Resistência, transformação e igualdade definem minha eleição. Elegerem e confiaram em um corpo trans me deixa esperançosa do futuro”, contou a eleita.

  • Thabatta Pimenta (PSOL): Natal (RN)

Dona da sexta maior votação na capital potiguar, Thabatta é a primeira pessoa trans eleita como vereadora para a Câmara Municipal de Natal. Ela recebeu 7.085 votos nas urnas.

Thabatta é natural de Carnaúba dos Dantas, no interior do estado, e celebrou a eleição como a mulher mais votada da cidade.

“É uma resposta também a muitas pessoas que acham que o nosso lugar, de pessoas trans e travestis, é nas ruas. O nosso lugar não é nas ruas. O nosso lugar é em todos os espaços”, disse a vereadora em entrevista.

  • Thammy Miranda (PSD): São Paulo (SP)
Thammy Miranda — Foto: Renato S. Cerqueira/Futura Press/Estadão Conteúdo
Thammy Miranda — Foto: Renato S. Cerqueira/Futura Press/Estadão Conteúdo

Primeiro homem trans eleito no país, Thammy Miranda, filho da cantora Gretchen, foi reeleito vereador em São Paulo, com 50.234 votos e a 22ª maior votação desta eleição. O resultado supera a marca obtida em 2020, quando teve 43.297 votos.

Após o resultado do pleito, ele usou as redes sociais para agradecer aos eleitores. “Gratidão a cada um que votou em mim, que depositou não apenas o voto, mas a confiança de uma São Paulo melhor”, escreveu.

  • Amanda Paschoal (PSOL): São Paulo (SP)

Amanda Paschoal contou com apoio da deputada federal trans Érika Hilton (PSOL), e foi a vereadora de esquerda que mais teve votos na capital paulista.

Ela tem um discurso voltado aos direitos humanos e para a visibilidade das pessoas transsexuais, além de defender os direitos de toda a comunidade LGBTQIA+ na cidade.

“Foram 50 dias nas ruas, em uma construção que demandou muito trabalho e organização. Com diálogo, afeto e muito brilho, nós fizemos uma campanha linda que rendeu o resultado emocionante que tivemos”, afirmou a vereadora nas redes sociais após a vitória.

  • Filipa Brunelli (PT): Araraquara (SP)

Filipa ganhou destaque por ser uma das vozes do movimento LGBTQIA+ de Araraquara e por ser primeira travesti a assumir um cargo no Poder Executivo do município, em 2017, como assessora especial de Politicas LGBT+.

Ela foi eleita pela primeira vez em 2020, e conquistou a reeleição ao cargo no último dia 6.

“Essa vitória não é apenas minha, é de uma comunidade toda. É a resposta ao conservadorismo, contra o ódio, contra o medo. É como se eu falasse para as pessoas que nós podemos tudo, que por mais que tentem nos marginalizar, nos escantear, nós somos perfeitos e iremos ocupar todos os espaços”, disse a vereadora em sua primeira vitória em 2020.

  • Myrella Soares (PDT): Bariri (SP)

Em 2020, Myrella foi eleita vereadora com a oitava maior votação e tornou-se a única mulher na cidade a conquistar um cargo público no voto popular.

Neste ano, foi reeleita. A vereadora tem como principais pautas a luta pelos direitos humanos e pelo acesso à educação.

  • Carla Basilio (PSD): Jundiaí (SP)

Carla Basilio também é uma das vereadoras trans eleitas em municípios do estado de São Paulo. Ela foi eleita com 2.830 votos.

“Fui eleita vereadora e quero fazer mais por vocês. Estou sempre ouvindo o povo e fazendo o que mais gosto de fazer: trabalhar”, disse Carla em vídeo publicado nas redes sociais.

  • Isabelly Carvalho (PT): Limeira (SP)

Nascida em Campinas (SP), Isabelly é servidora pública e reside em Limeira desde um ano de idade.

As propostas de mandato da vereadora são construídas com base em três pilares: participação popular, defesa das políticas sociais e articulação com movimentos sociais.

  • Dandara (MDB): Patrocínio Paulista (SP)

Dandara foi a mais votada entre todos os candidatos a vereador de Patrocínio Paulista e vai para o segundo mandato. Ela destacou a emoção pela conquista.

“Fiquei muito emocionada, foi uma conquista que eu não esperava essa quantidade de votos. É uma luta, porque há muitos preconceitos ainda. Esses quatro anos que tive posse da Câmara Municipal sofri muita transfobia, fui muito apedrejada e mostrei para todo mundo que fui capaz, estudei e agora estou aqui novamente”, disse.

  • Fernanda Carrara (PTB): Piraju (SP)

Com o dobro de votos recebidos em 2020, Fernanda Carrara, mulher trans, foi reeleita no último domingo (6), em Piraju, no interior de São Paulo.

Ela foi a segunda candidata mais votada da cidade. A vereadora contou que, entre as pautas que defende, está a luta contra todos os tipos de preconceito e as necessidades dos cidadão pirajuenses, como acesso à saúde pública de qualidade, educação, emprego e renda, cultura, esporte e lazer.

Ela diz que pretende seguir fiscalizando o executivo. “Que eu quero agradecer as pessoas que confiam em mim e me ajudaram também nesta função de fiscalizar seja me ligando me mudando mensagem me enviando cartas. Eu quero agradecer a todos pela confiança”, afirmou.

  • Tieta Melo (MDB): São Joaquim da Barra (SP)

Tieta foi a terceira mais votada em São Joaquim da Barra (SP), e se prepara para o terceiro mandato na cidade.

“Acho que rompi uma barreira e hoje escuto muito: ‘nós temos alguém que a gente pode ser exemplo. Se a Tieta Melo chegou onde está, nós também podemos lutar pelos nossos espaços’. Isso é muito importante para essa comunidade LGBTQIA+, que sempre viveu à margem da sociedade, na maioria das vezes, na prostituição, e agora está conseguindo seus espaços”, afirmou a vereadora.

  • Sabrina Sassa (Solidariedade): São Sebastião da Grama (SP)

Eleita com 166 votos, Sabrina é a primeira mulher trans a ocupar o cargo na cidade. Durante o mandato, ela pretende lutar pelo direito de todas pessoas trans, travestis e não binárias.

  • Yasmim Prestes (MDB): Entre Ijuís (RS)

A vereadora fez história como a primeira mulher trans a presidir uma Câmara de Vereadores no RS.

Com sua reeleição, pretendente, no seu mandato, continuar lutando para a empregabilidade da população LGBTQIA+.

  • Regininha (PT): Rio Grande (RS)

A vereadora foi reeleita neste ano com 1.652 votos.

“Mais uma vez esse corpo fazendo história no parlamento mais antigo do Rio Grande do Sul. Fui reeleita com 1652 votos e não existem palavras para agradecer cada um que confiou por mais 4 anos nesta mandata combativa, forte e inclusiva”, escreveu em suas redes após a vitória.

  • Atena Beauvoir (PSOL): Porto Alegre (RS)

Declarada transgênero, Atena Beauvoir Roveda, de 33 anos, conquistou 4.260 votos. Ela comemorou o resultado nas redes sociais.

Atena foi apoiada pela deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP). Entre as propostas, defende o acesso à educação e saúde, além da criação do Estatuto Municipal de Direito das Pessoas Trans.

“É a necessidade que Porto Alegre aspira por uma sociedade realmente respeitosa. O preconceito, a discriminação infligem uma quebra na nossa democracia”, relatou em entrevista.

  • Juhlia Santos (PSOL): Belo Horizonte (MG)

Juhlia Santos conquistou o primeiro mandato no Legislativo municipal da capital mineira, com 6.703 votos.

Para o seu mandato, ela promete enfrentamento à mineração na Serra do Curral, lutar contra o racismo religioso, pelos direitos da população LGBTQIA+ e promover a cultura da cidade com a retomada do carnaval de rua.

  • Giovami Joejoe (PT): Moema (MG)

Giovami trabalhou como bibliotecária até entrar no mundo da política. Ela pretende lutar pelo direito à educação e aos direitos das pessoas LGBTQIA+, indígenas e negras.

  • Francini Corsi (PSD): Ipuína (MG)

Além do cargo político, a vereadora também é jogadora de vôlei e promete cuidar da valorização do esporte no seu mandato.

Entre os projetos de Francini, junto ao partido, está a criação de uma arena esportiva para estimular o crescimento do esporte na cidade.

  • Marcela Lins (PSD): Santo Antônio do Amparo (MG)

Marcela é a mulher mais votada no município e ocupa a quinta posição ao todo, com 300 votos na cidade.

Entre as prioridades do mandato, ela pretende defender os direitos humanos da população e investir em melhoria na saúde, educação e esporte.

  • Co-Vereadora Vanessa do Há Braços de Luta (PT): Piranguinho (MG)

Formada em Psicologia, como uma mulher trans negra, ela pretende lutar contra o racismo e a transfobia, com pautas voltadas aos direitos humanos e à preservação do meio ambiente.

  • Edy Lopes (PT): Paramoti (CE)

Edy Oliveira Lopes tem 47 anos e concorreu pelo Partido dos Trabalhadores (PT). Foi a primeira vez que ela concorreu em uma eleição. Ela obteve 413 votos, conseguindo uma das nove cadeiras na Câmara Municipal de Paramoti.

Ela é bacharel em Serviço Social. Entre as pautas defendidas, ela disse que vai atuar pela defesa dos animais e representar a comunidade LGBTQIA+.

“Obrigada Paramoti pelos 413 votos de confiança! Foram muitos os desafios até aqui, mas também muitas demonstrações de apoio ao nosso projeto para chegar à câmara municipal. Pretendo honrar cada voto a mim concedido, exercendo com zelo o cargo de vereadora na Câmara Municipal”, publicou Edy.

  • Kará Marcia (PDT): Natividade (RJ)

Kará foi a mulher mais votada e a 11ª entre todos os candidatos no município, com 247 votos. “Quero agradecer a todos da cidade de Natividade pela confiança e apoio na minha reeleição, conto com vocês nessa jornada”, comemorou em vídeo postado em seu perfil.

  • Benny Brioli (PSOL): Nitéroi (RJ)

Recentemente a vereadora foi alvo de ataques transfóbicos pelo então prefeito de Santo Antônio do Tauá (PA) Rodrigo Amorim (MDB) que referiu a Benny como “aberração da natureza”.

Hoje, ela carrega o título de mulher mais votada de Niterói e pretende lutar contra a transfobia para que episódios como esse não se repitam.

  • Dricka Lima (Cidadania): Campo Novo do Parecis (MT)

Entre seus projetos, estão investir no acesso digno à saúde pública, usar o futebol como chave de mudança na vida de jovens e investimento em assistência social para a população de baixa renda.

  • Flávia Carreiro (PSD): Itaguajé (PR)

Flávia foi a mulher mais votada do município, e ficou em quarto lugar entre todos os candidatos com 176 votos.

“Quero expressar minha mais profunda gratidão a todos que confiaram em mim e depositaram seu voto e confiança nestas eleições. A vitória que conquistamos é resultado da união e do apoio de cada um de vocês. Muito obrigada!”, escreveu em publicação.

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