Como o furacão Helene causou dezenas de mortes e destruição generalizada pelo sul dos EUA

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Barcos invadem terra após passagem do furacão Helene em St. Petersburg, na Flórida — Foto: AP Photo/Mike Carlson

O furacão Helene atingiu a costa dos Estados Unidos na quinta-feira passada (26) com ventos fortes, chuvas pesadas e uma extensão tão grande que geraram a mistura perfeita para a devastação no sul do país. São 84 mortes confirmadas até a manhã de domingo (29).

A tempestade chegou aos EUA em uma área de pinheiros e pântanos na costa de Big Bend, na Flórida, e imediatamente demonstrou seu poder de longo alcance a centenas de quilômetros de distância.

A Baía de Tampa foi inundada por uma enorme tempestade que levou água até os sótãos das casas. Atlanta, na Geórgia, recebeu mais de 279 milímetros de chuva, recorde para um período de 48 horas.

Foram tantas as árvores derrubadas na Carolina do Sul que, em um determinado momento, mais de 40% do estado ficou sem eletricidade.

Na Carolina do Norte, as represas estavam sob risco de colapso, e comunidades inteiras ficaram isoladas pelas enchentes. As inundações deixaram um hospital no Tennessee submerso, e mais de 50 pacientes tiveram que ser resgatados do telhado por helicóptero.

Um furacão poderoso, extenso e acelerado

Como uma única tempestade desencadeou uma destruição tão ampla?

Dan Brown, especialista do National Hurricane Center, perto de Miami, disse que o Helene teve todos os atributos que o tornaram uma tempestade amplamente destrutiva.

O furacão foi extenso, com cerca de 560 quilômetros de largura. Poderoso, com ventos que atingiram 225 km/h quando ele atingiu a costa na quinta-feira à noite, criando uma tempestade generalizada.

Ele trouxe chuvas pesadas. E acelerou de forma rápida, rumando para o norte a até 39 km/h no mar e 48 km/h em terra.

O especialista comparou a escala geográfica da destruição de Helene aos furacões Agnes, de 1972, Hugo, de 1989, e Ivan, de 2004.

“Sistemas que se tornam muito poderosos, grandes e rápidos infelizmente têm potencial de impacto e danos para a terra”, disse Brown no sábado (28).

Bandeira dos EUA em meio a destruição causada pelo furacão Helene em Horseshoe Beach, na Flórida — Foto: AP Photo/Stephen Smith
Bandeira dos EUA em meio a destruição causada pelo furacão Helene em Horseshoe Beach, na Flórida — Foto: AP Photo/Stephen Smith

Essas foram algumas das muitas destruições causadas pelo Helene:

Flórida

A devastação de Helene começou na quinta-feira, horas antes de atingir a costa, quando varreu o Golfo do México. Seus ventos de 193 km/h geraram uma tempestade que carregou entre 2 e 4,5 metros de água para ilhas e bairros costeiros ao longo da costa oeste da Flórida.

Nove moradores, que ficaram para trás depois que seus bairros na área da Baía de Tampa receberam alertas para desocupação, se afogaram.

O xerife do condado de Pinellas, Bob Gualtieri, demonstrou frustração, dizendo que a decisão de emitir ordens de desocupação não é tomada de forma leviana.

Muitos que ignoraram as autoridades pediram ajuda, enquanto alguns buscaram refúgio em seus sótãos. Agentes tentaram ajudar, usando barcos e veículos 4×4, mas não conseguiram chegar a muitos bairros.

“Nós explicamos o caso, dissemos às pessoas o que elas precisavam fazer e elas escolheram o contrário”, disse Gualtieri na sexta-feira.

Na quinta à noite, o olho do Helene atingiu a costa noroeste da Flórida na área de Big Bend, que já havia sido afetada pelos furacões Idalia e Debby nos últimos 13 meses.

Susan Sauls Hartway, que havia saído de sua casa à beira-mar, não a encontrou quando retornou na sexta-feira. “Não tinha ideia de que seria tão ruim”, disse Hartway. “Isso é inacreditável.”

Geórgia

Após tocar o solo, o Helene rumou para a Geórgia, onde causou mais de 20 mortes.

Entre eles, estão uma mãe de 27 anos e seus gêmeos de 1 mês cuja casa foi atingida por árvores, na cidade de Thomson. Uma mulher de 89 anos morreu quando árvores caíram em sua casa nas proximidades.

Rhonda Bell e seu marido passavam uma noite mal dormida no quarto de baixo de casa nos arredores de Valdosta, onde o centro do furacão Helene passou logo após a meia-noite.

Os ventos quebraram galhos, arrancaram telhas e derrubaram cercas nas proximidades. Então, um carvalho alto caiu no telhado de um quarto no andar de cima.

“Eu simplesmente senti a casa inteira tremer”, disse Bell. “Graças a Deus nós dois estamos vivos para contar sobre isso.”

Atlanta foi atingida por 279 milímetros de chuva, o maior volume em 48 horas desde que a cidade começou a fazer esse registro, em 1878. Ruas inundaram, submergindo carros. Bombeiros resgataram pelo menos 20 pessoas.

Furacão Helene provoca estragos em Boone, na Carolina do Norte, nesta sexta-feira (27). — Foto: Jonathan Drake/Reuters
Furacão Helene provoca estragos em Boone, na Carolina do Norte, na sexta-feira (27). — Foto: Jonathan Drake/Reuters

Carolina do Norte

As fortes chuvas do Helene nas montanhas do oeste causaram grandes inundações e deslizamentos de terra na região de Asheville, cortando boa parte da comunicação e bloqueando as estradas. Ao menos 30 pessoas morreram na região.

Um vídeo postado nas redes sociais mostrou grandes partes da cidade submersas.

A mais de 1.610 quilômetros de distância, no Texas, Jessica Drye Turner implorou no Facebook, na sexta-feira, para que alguém resgatasse seus familiares presos no telhado de Asheville.

No entanto, no sábado, Turner disse que o telhado desabou antes que a ajuda chegasse. Ela contou que seus pais, ambos na casa dos 70 anos, e seu sobrinho de 6 anos se afogaram.

“Não consigo expressar em palavras a tristeza, o desgosto e a devastação que minhas irmãs e eu estamos passando”, escreveu.

Carolina do Sul

A tempestade foi especialmente mortal na Carolina do Sul. O maior impacto foram as quedas de árvores, e a tempestade também produziu tornados no estado.

No condado de Saluda, dois bombeiros morreram quando uma árvore caiu em seu caminhão enquanto eles atendiam uma emergência. No condado de Greenville, queda de árvores causaram quatro mortes.

Quatro pessoas também morreram no condado de Aiken por conta da queda de árvores em casas, incluindo um homem de 78 anos e sua esposa de 74 anos.

Casal observa residência atingida pelas inundações do rio Pigeon após passagem do furacão Helene em Newport, no Tennessee — Foto: AP Photo/George Walker IV
Casal observa residência atingida pelas inundações do rio Pigeon após passagem do furacão Helene em Newport, no Tennessee — Foto: AP Photo/George Walker IV

Tennessee

As fortes chuvas do Helene fizeram com que os rios no leste do estado transbordassem e ameaçassem o colapso de represas, forçando a retirada de moradores da região.

Pacientes e outras pessoas em um hospital perto da divisa com a Carolina do Norte tiveram que ser levados para o telhado na sexta-feira quando águas do rio Nolichucky, que transbordou, invadiram o prédio.

O Hospital do Condado de Unicoi tentou retirar 11 pacientes e dezenas de outros, mas a água estava muito tortuosa para que os barcos enviados pela Agência de Gerenciamento de Emergências do Tennessee navegassem.

Helicópteros foram enviados para ajudar no resgate. Eventualmente, todos foram retirados.

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