De recepção com honras no Brasil a convocação de embaixador: a cronologia da crise Lula x Maduro

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Nicolás Maduro e Lula. Foto: Reprodução

Aliados históricos, e alvos de críticas por isso, os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva, do Brasil, Nicolás Maduro, da Venezuela, passaram a enfrentar uma crise política na relação entre eles, que atualmente chegou aos níveis diplomáticos.

Em 29 de maio do ano passado, por exemplo, Lula recebeu Maduro no Palácio do Planalto com honras de chefe de Estado, isto é, a visita de mais alto nível. Maduro subiu a rampa do palácio e, ao final do encontro, os dois presidentes fizeram um pronunciamento à imprensa no Salão Leste.

Lula, por exemplo, disse que era um “prazer” receber Maduro, afirmou ser um “absurdo” as pessoas não o reconhecerem como presidente da Venezuela e completou dizendo que cabia à própria Venezuela “mostrar a sua narrativa” e convencer as pessoas a mudarem de opinião.

Em resposta a essas declarações de Lula, Maduro disse que “Brasil e Venezuela têm que estar unidos, daqui para frente e para sempre”.

No mesmo dia, em outro momento – no Palácio Itamaraty, sede do Ministério das Relações Exteriores -, Lula se voltou aos jornalistas presentes e indagou:

“Quantos anos vocês passaram ouvindo dizer que o Maduro era um homem mau?”.

O próprio Maduro, então, tomou a palavra e respondeu a Lula: “Muitos. Muitos, muitos”.

Passado cerca de um ano e meio desse episódio, as relações políticas entre os dois não é a mesma. E as relações diplomáticas entre Brasil e Venezuela estão mais distantes.

O cenário começou a mudar em março deste ano, quando o Ministério das Relações Exteriores disse, oficialmente, com o aval de Lula, que acompanhava com “preocupação” o desenrolar do processo eleitoral venezuelano. À época, uma candidata da oposição a Maduro foi inabilitada e outra opositora sequer conseguiu registrar a candidatura, o que fez a oposição buscar outro nome no limite do prazo.

Nos episódios mais recentes, o assessor especial do presidente Lula para assuntos internacionais, Celso Amorim, disse na terça (29) que houve “quebra de confiança” entre os dois países. Isso porque o Brasil foi um dos mediadores do acordo que previa eleições livres e diretas no país vizinho, o que não se confirmou.

Um dia depois, na quarta (30), o governo da Venezuela convocou o embaixador em Brasília para retornar ao país em razão de “declarações intervencionistas e grosseiras” do governo brasileiro.

A convocação de um embaixador demonstra, em linguagem diplomática, que um país está incomodado com o outro.

Cronologia da crise na relação

Relembre abaixo alguns dos episódios que mostram momentos de maior proximidade entre Lula e Maduro e momentos de maior distância:

  • 29 de maio de 2023: Maduro faz visita ao Brasil e é recebido com honras de chefe de Estado;
  • 29 de maio de 2023: Lula defende Maduro e diz que venezuelano precisa construir a própria “narrativa” sobre cenário no país;
  • 29 de junho de 2023: Brasil defende publicamente a entrada da Venezuela no Mercosul;
  • 17 de outubro de 2023: Lula envia Celso Amorim a Barbados para mediar acordo eleitoral na Venezuela;
  • 29 de janeiro de 2024: Corina Machado, opositora de Maduro, é inabilitada e não pode disputar eleição;
  • 1 de março de 2024: Lula e Maduro se reúnem em São Vicente e Granadinas e discutem processo eleitoral;
  • 26 de março de 2024: Substituta de Maria Corina Machado, Corina Yoris não consegue registrar candidatura;
  • 26 de março de 2024: Itamaraty manifesta ‘preocupação’ com desenrolar do processo eleitoral na Venezuela (com opositores sendo impedidos de participar do pleito);
  • 24 de julho de 2024: Maduro não apresenta provas e mente ao dizer que o Brasil não tem eleições auditáveis;
  • 28 de julho de 2024: Eleição presidencial da Venezuela;
  • 29 de julho de 2024: Conselho Nacional Eleitoral reconhece vitória de Maduro nas eleições;
  • 30 de julho de 2024: Lula cobra divulgação das atas eleitorais pelo governo Maduro;
  • 22 de agosto de 2024: Suprema Corte da Venezuela declara Maduro vencedor e proíbe divulgação das atas eleitorais;
  • 23 de outubro de 2024: Brics se reúne e barra entrada da Venezuela após articulação do Brasil;
  • 24 de outubro de 2024: Venezuela chama veto do Brasil de ‘agressão inexplicável’ e diz que governo Lula reproduz ‘ódio de Bolsonaro’
  • 28 de outubro de 2024: Maduro cobra explicação pública de Lula sobre episódio envolvendo o Brics;
  • 29 de outubro de 2024: Assessor de Lula diz que houve “quebra de confiança” entre os dois países.
  • 30 de outubro de 2024: Governo da Venezuela convoca o embaixador em Brasília para retornar ao país.

 

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