Indígenas colombianos ameaçam vetar venda de Coca-Cola em seus territórios

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Indígenas colombianos consideraram proibir a venda de Coca-Cola em seus territórios devido ao “uso não consentido” da palavra coca – uma de suas plantas sagradas – na famosa bebida.
As comunidades do sudoeste do país ameaçaram vetar a multinacional, rejeitando a recente advertência legal que a empresa lhes deu por usarem o nome ‘coca’ em uma de suas cervejas artesanais.
Representantes dos povos Nasa e Embera Chamí enviaram uma carta ao fabricante de bebidas com um ultimato de dez dias para dar “explicações para o uso não consentido da marca Coca-Cola”, segundo o texto ao qual a AFP teve acesso nesta quinta-feira (17).
Se o prazo não for cumprido, eles antecipam “medidas judiciais e comerciais” contra a Coca-Cola, incluindo “a interdição da venda de seus produtos em territórios indígenas”, que cobrem 33 milhões de hectares – quase um terço do país -, segundo a Agência Nacional de Terras.
Durante séculos, os povos nativos mastigam a folha de coca e a defendem como parte de sua “herança cultural”.
Ao registrar seu nome sem consultá-los, eles alegam que a empresa americana se envolveu em “práticas abusivas”, que violam “regulamentos nacionais e andinos e (o) sistema internacional de direitos humanos”.
Cerca de 4,4% dos 50 milhões de habitantes da Colômbia se identificam como indígenas, segundo o censo mais recente (2018).
O escritório de advocacia Brigard Castro, representante legal da gigante das bebidas na Colômbia, não respondeu de imediato a um pedido de comentário da AFP.
– Por causa de uma cerveja –
A líder do povo Nasa, Fabiola Piñacue, signatária da carta, defendeu o “direito” de sua comunidade de comercializar sua cerveja Coca Pola.
“A folha de coca é um dos principais elementos da cultura Nasa. Chega de começarem a nos perseguir porque a coca é dos outros”, enfatizou.
O nome da cerveja que causou a polêmica vem do termo “pola”, como a cerveja é chamada na Colômbia, e “coca”, a planta sagrada dos indígenas, que também é matéria-prima da cocaína.
A Colômbia é o maior produtor mundial deste estimulante ilegal. No entanto, a legislação autoriza os indígenas a cultivar a coca e comercializar outros produtos à base de suas folhas.
Quase três meses após o pedido da Coca-Cola, a Cola-Pola ainda está no mercado ao preço de cerca de 2 dólares a lata. A empresa Coca Nasa a fabrica há quatro anos e hoje produz 7 mil cervejas por mês.
David Curtidor, representante legal da Coca Nasa, lembrou que em 2012 os tribunais decidiram a favor de uma organização indígena que processou um empresário colombiano por registrar a marca “Coca Indígena” sem consultar os representantes dos povos originários.
Após a decisão, a marca saiu do mercado.
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