PF indicia 7 generais e outros 18 militares em investigação de trama do golpe; veja lista

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O presidente Jair Bolsonaro, em 2022, no Palácio da Alvorada - Evaristo Sá - 26.out.22/AFP

A Polícia Federal indiciou, nesta quinta-feira (21), 25 militares, sendo 7 oficiais-generais, na conclusão do inquérito sobre a trama golpista que envolveu Jair Bolsonaro (PL) e aliados do ex-presidente contra a posse de Lula (PT).

O próprio Bolsonaro é capitão reformado do Exército e faz parte da lista. Os militares representam dois terços do total de 37 indiciados pela PF.

São alvos do inquérito militares que foram aliados de primeira hora do ex-presidente, como o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do então presidente, e o general da reserva Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa e vice da chapa derrotada em 2022 ao Planalto.

Ex-comandante da Marinha, o almirante Almir Garnier Santos é suspeito de ter oferecido tropas para viabilizar um golpe de Estado. As intenções golpistas foram relatadas à Polícia Federal pelos ex-chefes do Exército Freire Gomes e da Aeronáutica Baptista Júnior.

Freire Gomes e Baptista Júnior não foram indiciados, e as informações prestadas por eles colocaram Jair Bolsonaro no centro do debate sobre o planejamento do golpe. Já Garnier, que teria concordado com as intenções do ex-presidente, foi indiciado.

O ministro da Defesa no fim do governo Jair Bolsonaro, general Paulo Sérgio Nogueira, também foi indicado por supostamente ter pressionado os chefes das Forças Armadas a apoiar os planos golpistas aventados no Palácio da Alvorada.

O general Estevam Theophilo, um dos indiciados, era membro do Alto Comando do Exército —grupo composto pelos 16 generais no topo da carreira (quatro estrelas). Ele foi para a reserva no fim de 2023.

Dos oficiais-generais indiciados, somente um está na ativa: o general de brigada (duas estrelas) Nilton Diniz Rodrigues, comandante da 2ª Brigada de Infantaria de Selva, no Amazonas. Ele entrou na mira da PF na reta final da investigação, após os investigadores encontrarem mensagens do militar com Mauro Cid.

Na quarta-feira (20), o ministro da Defesa, José Múcio, disse que não representavam as Forças Armadas os militares presos em operação sobre planejamento de golpe de Estado em 2022.

“Não são pessoas que representam as Forças Armadas. Não estavam representando os militares. Estavam com os CPFs [deles], isso foi iniciativa de cada um. E eu desejo que tudo seja apurado, que os culpados sejam verdadeiramente julgados pela Justiça”, disse.

Bolsonaro repetia discursos ao longo do governo em que falava em “meu Exército” e exaltava ser “chefe supremo das Forças Armadas”.

Nos anos 1990, Bolsonaro chegou a defender publicamente um novo golpe militar no Brasil e disse não acreditar em solução para o Brasil por meio do voto popular.

“Não há menor dúvida, daria golpe no mesmo dia! Não funciona! E tenho certeza de que pelo menos 90% da população ia fazer festa, ia bater palma, porque não funciona. O Congresso hoje em dia não serve pra nada, só vota o que o presidente quer. Se ele é a pessoa que decide, que manda, que tripudia em cima do Congresso, dê logo o golpe, parte logo para a ditadura”, afirmou Bolsonaro em entrevista ao programa Câmera Aberta em 1999.

Nesta quinta, a PF indiciou as 37 pessoas pelos crimes de abolição violenta do Estado democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa.

A apuração aponta que diversas frentes de ação ilegal contra a mudança na Presidência foram abertas no entorno do presidente, como discussões sobre uma minuta para reverter o resultado das eleições até o plano para matar Lula, o vice Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Mores, do STF (Supremo Tribunal Federal).

Os militares citados na apuração da PF de acordo com as informações do inquérito, antes do indiciamento, são:

Capitão reformado Jair Bolsonaro: ex-presidente, teria participado das discussões sobre golpe de Estado. Durante o mandato, acumulou declarações golpistas, atacou as urnas e ameaçou não entregar a Presidência após a derrota eleitoral.

General da reserva Braga Netto: ex-ministro da Defesa e candidato a vice-presidente na chapa de Bolsonaro, em 2022, teria abrigado em sua residência reuniões em que foram discutidas a elaboração da minuta golpista, também o plano para matar Lula, Alckmin e Moraes.

General da reserva Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira: atuou para manter o discurso de que a eleição de 2022 foi fraudada. Teria ainda participado de discussões sobre a minuta golpista.

Almirante da reserva Almir Garnier Santos: ex-comandante da Marinha, teria concordado com o plano golpista, segundo a apuração da PF. Mauro Cid, em delação, também apontou que Garnier apoiou a ideia.

General da reserva Mario Fernandes: ex-secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência no governo Bolsonaro, é apontado pela PF como “um dos militares mais radicais” do caso. Ele teria elaborado plano para impedir a posse de Lula, que incluía os assassinatos. A investigação aponta que Fernandes imprimiu o plano no Palácio do Planalto. Foi preso na terça-feira (19).

General da reserva Augusto Heleno: é investigado por integrar o suposto “núcleo de inteligência paralela”, que teria atuado na consumação de um golpe de Estado, segundo a PF.

General da reserva Estevam Theophilo: ex-chefe do Comando de Operações Terrestres. Teria consentido com o apoio militar ao golpe com participação das Forças Especiais do Exército.

General Nilton Diniz Rodrigues: foi chamado a depôr no começo do mês dentro da apuração da PF sobre tentativa de golpe.

Tenente-coronel Mauro Cid: ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, teria participado das ações de disseminação de informações falsas sobre as urnas eletrônicas, além de discussões golpistas sobre a minuta do golpe, monitoramento da localização de Moraes e articulação das Forças Armadas contra a vitória de Lula. Cid foi preso em 2023 e solto após assinar delação premiada.

Tenente-coronel Hélio Ferreira Lima: teria participado das ações de contestação às urnas eletrônica e do planejamento do golpe, segundo a PF. A investigação aponta que ele mantinha o “planejamento estratégico” do golpe em seus arquivos. Foi preso na terça-feira (19).

Tenente-coronel Guilherme Marques Almeida: ex-comandante do 1º Batalhão de Operações Psicológicas do Exército, suspeito de planejamento de golpe de Estado.

Major Rafael Martins de Oliveira: teria mobilizado manifestações golpistas contra o resultado eleitoral. Segundo a PF, ele ainda participou de reunião na casa de Braga Netto em que foram discutidos os planos golpistas. A investigação ainda aponta que Oliveira fez a “coordenação financeira e operacional” a atos antidemocráticos. Foi preso na terça-feira (19) por ser um dia líderes do plano para matar Lula, Alckmin e Moraes.

Subtenente Giancarlo Gomes Rodrigues: alvo de investigação sobre a “Abin paralela” de Bolsonaro.

Major da reserva Ângelo Martins Denicoli: PF diz que ele atuou no suposto “núcleo de desinformação e ataques ao sistema eleitoral”

Coronel Bernardo Romão Corrêa Neto: teria participado da preparação para a tentativa de um golpe de Estado. Trocou mensagens de cunho golpista com Mauro Cid.

Coronel Alexandre Castilho Bitencourt da Silva: suspeito de articular carta que pressionava a cúpula das Forças Armadas a dar um golpe contra Lula.

Coronel Anderson Lima de Moura: suspeito de articular carta que pressionava a cúpula das Forças Armadas a dar um golpe contra Lula.

Coronel da reserva Carlos Giovani Delevati Pasini: suspeito de articular carta que pressionava a cúpula das Forças Armadas a dar um golpe contra Lula.

Tenente-coronel Ronald Ferreira de Araújo Júnior: teria participado de conversas sobre investidas golpistas.

Coronel da reserva Marcelo Costa Câmara: investigado por monitorar a localização de Moraes para eventual prisão do ministro em meio à trama golpista.

Tenente-coronel Sergio Ricardo Cavaliere de Medeiros: ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, teria disseminado informações falsas sobre o sistema eleitoral e participado de discussões para estimular apoio militar ao golpe.

Coronel da reserva Laércio Vergílio: atuou para incitar o golpe, segundo a PF. Em depoimento, disse que a prisão de Moraes seria necessária para a “volta da normalidade institucional”.

Capitão reformado Ailton Gonçalves Moraes Barros: PF afirma que ele e Braga Netto trocaram mensagens sobre planos golpistas.

Coronel Cleverson Ney Magalhães: ex-assistente de Theophilo, teria participado de discussões sobre adesão militar ao golpe.

Coronel Fabrício Moreira de Bastos: é militar da ativa e atualmente exerce a função de adido militar em Israel. Antes, foi comandante do 52º Batalhão de Infantaria de Selva em Marabá (PA). Não foi citado em fases anteriores da investigação da Polícia Federal.

 

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