Polícia prende funcionária de laboratório suspeita de envolvimento no caso dos órgãos com HIV
A bióloga e coordenadora técnica do laboratório PCS Lab Saleme, Adriana Vargas dos Anjos, foi presa na manhã de domingo (20), por suspeita de envolvimento na emissão dos laudos com falso negativo para HIV no Rio de Janeiro. O erro nos exames fez com que seis pacientes recebessem transplantes de órgãos infectados com o vírus.
Anjos foi presa em casa, em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, e levada para a Decon (Delegacia do Consumidor), na Cidade da Polícia, zona norte do Rio.
A coordenadora foi acusada por funcionários de ter dado ordem para economizar no controle de qualidade. O advogado Leonardo Mazzutti Sobral, que representa a bióloga, afirmou que Anjos “não recebeu e tampouco emitiu qualquer ordem para reduzir a periodicidade de atos relativos a controle de qualidade”. A defesa disse ainda que repudia qualquer informação ou depoimento veiculado em contrário.
Segundo as investigações, houve uma falha operacional no controle de qualidade aplicado nos testes, com o objetivo de diminuir custos. A análise das amostras deixou de ser realizada diariamente e se tornou semanal.
A coordenadora do laboratório PSC Saleme já tinha sido ouvida pela polícia sobre essa suspeita. No depoimento, ela declarou que o controle de qualidade dos equipamentos era feito diariamente por sua orientação e que ela nunca ordenou que fosse semanal.
Ainda segundo a declaração de Anjos, o controle era feito pelos técnicos Ivanilson Fernandes dos Santos e Everaldo Medeiros Dias. Ambos afirmaram à polícia que a ordem para economizar no controle de qualidade no laboratório teria sido de Anjos.
Ivanilson Santos foi preso no dia 14 de outubro, na primeira fase da operação. Além dele, estão presos os técnicos Cleber de Oliveira Santos e Jacqueline Iris Bacellar de Assis, e o ginecologista Walter Vieira, um dos sócios. Nenhum dos envolvidos assumiu a culpa pelos erros nos exames.
O médico Walter Vieira atribuiu as contaminações a falhas humanas. Segundo ele, no primeiro caso, Cléber Santos não realizou a checagem de um equipamento para testes de HIV, resultando em um laudo falso negativo.
No segundo caso, Ivanilson teria digitado incorretamente o resultado de um exame, e a conferência e assinatura ficaram a cargo de Jaqueline Assis, que teria utilizado documentos falsos para se passar por biomédica.
A defesa de Cleber afirma que ele não fez exames com falsos negativos e não tinha vínculo empregatício com a clínica.
Ivanilson afirmou que não assinava os laudos do laboratório, sendo essa responsabilidade de outros profissionais.
Jacqueline afirmou que sua função era administrativa e que seu nome foi usado indevidamente em assinaturas de laudos. Ela também disse que nunca se apresentou como biomédica.
Além de Anjos, outras duas pessoas, cujos nomes não foram informados pela polícia, também foram levadas para a Decon, na Cidade da Polícia, para prestar depoimento neste domingo. Uma delas é um ex-sócio do laboratório PSC Saleme. Ambos foram ouvidos e liberados.
Policiais civis da Decon fizeram a segunda fase da Operação Verum, para cumprir um mandado de prisão e oito de buscas e apreensão. A ação conta com o apoio do Departamento-Geral de Polícia Especializada.
Em nota, a Polícia Civil afirmou que, atualmente, além das diligências deste domingo, estão em andamento a análise dos documentos e materiais apreendidos.
Entre os itens recolhidos pelos policiais, está a máquina que era responsável pela checagem da presença de HIV nas amostras dos órgãos doados. O maquinário está na Cidade da Polícia, onde passará por perícia.
Na casa de Adriana dos Anjos, os agentes apreenderam três computadores e quatro telefones, além de documentos. O delegado Wellington Pereira disse que o material pode embasar uma terceira fase da operação.
“Na unidade onde os laudos foram emitidos fraudulentamente, ela exercia o cargo de chefe. Então é uma pessoa importante para a investigação”, afirmou.
Com o avançar das apurações, a Secretaria de Estado de Polícia Civil desmembrou o procedimento que apura os falsos laudos emitidos pelo laboratório PCS Saleme e instaurou novo inquérito para investigar o processo de contratação da empresa.
Essa apuração conta com apoio do Departamento-Geral de Combate à Corrupção, ao Crime Organizado e à Lavagem de Dinheiro da Polícia Civil e da Controladoria-Geral do Estado.