Lançada em 1956, versão nacional de microcarro italiano foi produzida até 1961 no interior paulista. Foto: Divulgação

Há pouco mais de 65 anos, em um galpão das Indústrias Romi, em Santa Bárbara d’Oeste, cidadezinha do interior paulista, os primeiros exemplares do modelo que inaugurava a produção nacional de automóveis começavam a ficar prontos.

A Romi-Isetta era pouco mais que uma motocicleta com teto e sua mecânica vinha das máquinas de duas rodas – não por acaso, seu projeto original era da fabricante de motos italiana Iso, que a lançara em 1953 na Europa, em uma configuração de apenas três rodas (duas na dianteira e uma na traseira).

No Velho Continente, o carrinho passou também a ser fabricado em outros países, também com a configuração de quatro rodas (duas na traseira, em uma bitola bem estreita), sendo sua versão mais famosa a montada pela alemã BMW, a partir de 1955.

Hoje, é até provável que considerássemos aquele carro-bolha (buble car, como era classificado) como um modelo urbano e racional, Afinal, ela era muito compacta, algo revolucionária em temos de engenharia e desenho e bebia pouquíssimo: um litro de gasolina a cada 25 km.

Lançada oficialmente em 5 de setembro de 1956, em meio à onda otimista de progresso do governo de Juscelino Kubistchek, o “presidente bossa-nova”, a Romi-Isetta chegou em meio a criativas ações de marketing, ainda raras em nosso País.

Para divulgar o carro, foram promovidas caravanas nas capitais brasileiras e campanhas com anúncios que tinha estrelas conhecidas como protagonistas, entre eles o então popularíssimo casal de atores Eva Wilma e John Herbert, pioneiras na programação da recém-nascida TV no Brasil.

E, se hoje o carrinho engraçado e barulhento, com porta na frente e coluna de direção retrátil, parece meio cômico, para os nossos conterrâneos dos anos 1950, ele deveria se parecer com um pedacinho do futuro, totalmente diferente do que estavam acostumados a ver pelas ruas.

Mas nem tudo saiu como esperado. Diferentemente do que acontecia com as montadoras estrangeiras que se instalavam por aqui – como VW, Chevrolet, DKW, Willys e Simca –, a Romi não contou com isenções e estímulos fiscais para sua produção.

O que se alegava é que, como transportava apenas dois passageiros, a Romi-Isetta estaria enquadrada como um “carro esportivo” – e, portanto, não deveria ser prioridade de investimento para o governo.

Para piorar, em 1959, o fundador da empresa e maior entusiasta do projeto, Américo Emílio Romi, faleceu. Com ele se foram também os planos para lançar novas versões do carrinho, como a 600, que contava com quatro lugares e, finalmente, daria ao modelo condições de receber os tais incentivos.

A produção declinou até seu final, em 1961. Ao todo, estima-se que 3.150 unidades tenham sido produzidas e, hoje, um exemplar em bom estado costuma ser disputado por colecionadores. As Indústrias Romi, que antes da aventura automobilística eram uma referência na produção de equipamentos e ferramentas, voltou a se dedicar somente a esse segmento – no qual segue até hoje.

Vamos à ficha técnica da versão de lançamento da Romi-Isetta, de 1956:

Motor: transversal traseiro, um cilindro a dois tempos, 198cc e 9,5cv.

Transmissão: tração traseira por corrente, com câmbio manual de 4 marchas.

Suspensão: independente (molas de borracha e amortecedores de fricção) na dianteira; feixe de molas com eixo rígido e braço oscilante na traseira.

Freios: hidráulicos a tambor nas 4 rodas.

Dimensões (metros): comprimento, 2,25; largura, 1,34; altura, 1,32, entre-eixos, 1,50.

Peso: 360 kg.

Velocidade máxima (estimada): 85 km/h

Aceleração (estimada): 0-80 km/h em 60 segundos

Consumo: 25 km/litro

A partir de 1959, a Romi-Isetta trocou de motor e passou a usar um BMW de quatro tempos e 298cc, que rendia 13cv. Sua suspensão dianteira foi também modificada, melhorando um pouco o conforto.

Veja neste vídeo, produzido pela Fundação Romi, cenas da linha de montagem do carrinho em Santa Bárbara e de testes de resistência e estabilidade, feitos pouco antes de ser lançado.

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