Trump retira EUA do Conselho de Direitos Humanos da ONU e da UNRWA, e diz que palestinos não têm alternativa a não ser deixar Gaza

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Palestinos inspecionam casas destruídas em ataques israelenses em Khan Younis, na Faixa de Gaza

O presidente dos EUA, Donald Trump, assinou na terça-feira (4) uma ordem executiva retirando o país do Conselho de Direitos Humanos da ONU e mantendo a suspensão do financiamento para a agência da entidade que fornece assistência para refugiados palestinos, a UNRWA.

Em um evento com a presença de jornalistas no Salão Oval da Casa Branca para a assinatura dos decretos, ele também afirmou que a única alternativa dos palestinos que vivem na Faixa de Gaza é deixar o território — uma ideia apoiada pela extrema direita israelense, e que constituiria limpeza étnica perante o direito internacional, segundo analistas.

Trump afirmou que gostaria que a Jordânia e o Egito recebesse os palestinos deslocados do território, cuja infra-estrutura foi seriamente destruída após 15 meses de guerra entre Israel e Hamas — grupo terrorista que controla a região.

“É um local em escombros. Se pudéssemos encontrar o pedaço certo de terra, ou vários pedaços de terra, e construir alguns lugares realmente bons com bastante dinheiro na região [para os palestinos], aí sim. Acho que seria muito melhor do que voltar para Gaza”, disse ele a repórteres no Salão Oval.

No último dia 25, Trump deu uma declaração similar.

“[Gaza] É literalmente um local de demolição, quase tudo foi demolido e as pessoas estão morrendo lá. Então, eu preferiria me envolver com algumas das nações árabes e construir moradia em outro local onde elas possam talvez viver em paz, pelo menos por um tempo”, disse o presidente.

“Estamos falando de um milhão e meio de pessoas, e nós apenas limpamos tudo isso.”

O Conselho de Direitos Humanos da ONU é um órgão criado pela entidade em 2006 para promover tópicos como liberdade de associação e movimento, liberdade de expressão, de crença e direitos das mulheres e da população LGBT — além de investigar alegações de violações de estados-membros.

Já a UNRWA foi estabelecida há cerca de 75 anos, atendendo cerca de 750 mil refugiados palestinos da guerra de 1948, durante a criação do Estado de Israel. Ela é a principal organização das Nações Unidas que fornece serviços de ajuda e educação a milhões de palestinos na Cisjordânia ocupada e em Gaza. Recentemente, Israel votou por encerrar o acordou que permitia o funcionamento de seus escritórios no país.

Ao lado de Netanyahu, Trump diz que quer tirar ‘todos’ os moradores de Gaza permanentemente

Benjamin Netanyahu visita Donald Trump na Casa Branca, em 4 de fevereiro de 2025 — Foto: AP Photo/Evan Vucci
Benjamin Netanyahu visita Donald Trump na Casa Branca, em 4 de fevereiro de 2025 — Foto: AP Photo/Evan Vucci

Mais tarde, também na terça-feira (4), Donald Trump afirmou que quer tirar “todos” os moradores da Faixa de Gaza de forma permanente. A afirmação foi feita ao lado primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, que visitou a Casa Branca.

Poucas horas antes do encontro, Trump já havia feito afirmações semelhantes, dizendo que os palestinos não tinham outra alternativa a não ser deixar o território.

Grande parte da Faixa de Gaza foi reduzida a escombros durante a guerra entre Israel e Hamas, que começou no dia 7 de outubro de 2023 após um ataque do grupo terrorista contra o território israelense. Atualmente, o conflito vive uma trégua graças a assinatura de um acordo de cessar-fogo.

Trump e Netanyahu são aliados. Ao receber o primeiro-ministro na Casa Branca, o presidente norte-americano afirmou que os moradores de Gaza precisam ser realocados para um outro país.

“Espero que possamos fazer algo para que eles não queiram voltar. Quem que iria quer voltar? eles não experimentaram nada além de morte e destruição”, afirmou.

“Não achou que as pessoas devam voltar para Gaza. Acho que Gaza trouxe muito azar para elas”, disse. “Gaza não é um lugar para as pessoas viverem.”

Ao ser questionado sobre quantas pessoas ele acredita que deveriam deixar o território palestino, Trump respondeu: “Todas elas”.

Os comentários de Trump marcam uma mudança em uma sugestão que o próprio presidente deu sobre a reconstrução da Faixa de Gaza. No dia 26 de janeiro, ele afirmou que a retirada da população do território poderia ser apenas temporária ou a longo prazo.

A proposta de Trump foi rechaçada por autoridades do Hamas, que classificaram a sugestão como “expulsão”.

“Nós consideramos isso como uma receita para gerar caos e tensão na região, porque o povo de Gaza não permitirá que tais planos passem”, disse um dos membros do grupo terrorista.

Trump disse que conversou com as autoridades de Jordânia e Egito para que ambos os países recebessem moradores de Gaza. Segundo o presidente, outras nações também poderiam ajudar com áreas para a construção de casas.

Destruição de Gaza

O conflito entre Israel e Hamas, interrompido em janeiro por um acordo de cessar-fogo, gerou uma crise humanitária no território e deixou mais de 40 mil mortos.

Até o ano passado, os Estados Unidos afirmavam ser contra o deslocamento forçado de palestinos. O então presidente Joe Biden defendia a criação do Estado da Palestina e um acordo para convivência pacífica com Israel.

As falas de Trump levantam preocupações sobre uma saída generalizada de palestinos da Faixa de Gaza, o que poderia resultar no “apagamento” do grupo na região e enfraquecer a proposta para a criação do Estado da Palestina.

Trump conversou com o rei Abdullah da Jordânia neste sábado. Em entrevista a jornalistas, o presidente norte-americano afirmou que sugeriu que o monarca aceite palestinos no país, já que a Faixa de Gaza está uma “bagunça”.

No entanto, o ministro das Relações Exteriores da Jordânia, Ayman Safadi, reiterou a rejeição de seu país à proposta.

“Nossa rejeição ao deslocamento dos palestinos é firme e não mudará. A Jordânia é para os jordanianos e a Palestina é para os palestinos”, disse o chanceler.

A proposta de Trump foi elogiada pelo ministro das Finanças de Israel, Bezalel Smotrich, em um comunicado: “A ideia de ajudá-los a encontrar outros lugares para começar uma vida melhor é uma excelente ideia. Após anos de glorificação do terrorismo, (os palestinos) poderão estabelecer vidas novas e boas em outros lugares.”

Smotrich é um dos principais nomes da extrema direita no país, defensor da anexação total dos territórios palestinos por Israel e da criação de novos assentamentos israelenses, considerados ilegais pela ONU e pela maior parte da comunidade internacional.

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