Veja o que aconteceu com 10 personagens do 8 de janeiro, um ano após ataques

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Foto: Lucas Neves/Enquadrar/Estadão Conteúdo

por Matheus Tupina

Os ataques golpistas de 8 de janeiro, que completam um ano, provocaram uma série de afastamentos, prisões e operações de busca e apreensão contra autoridades, empresários e suspeitos de participar, incitar e financiar os atos.

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que estava nos Estados Unidos no dia dos atos, teve seu indiciamento pedido pela CPI do 8 de janeiro no Congresso Nacional, sendo tratado na comissão como “autor intelectual” do ocorrido.

No dia seguinte à invasão da praça dos Três Poderes, o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), foi afastado por determinação do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes.

Em 14 de janeiro, Anderson Torres, ex-ministro da Justiça e secretário de Segurança Pública do DF no dia dos ataques, foi preso pela Polícia Federal. Ele estava nos Estados Unidos, tendo viajado na véspera do acontecimento.

Já o general Gonçalves Dias, então ministro-chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), pediu demissão a Lula (PT) após imagens do circuito interno de segurança do Palácio do Planalto serem reveladas, mostrando atitude colaborativa de agentes.

Veja como estão algumas das principais personagens do 8 de janeiro, um ano após os ataques:

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JAIR BOLSONARO (PL), EX-PRESIDENTE

O ex-presidente, agora considerado inelegível pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), é alvo de investigação sobre os ataques golpistas de 8 de janeiro.

Mais recentemente, a PGR (Procuradoria-Geral da República) encaminhou relatório e vídeo postado e apagado do perfil do ex-mandatário no Facebook e que, segundo os investigadores, é fundamental para apresentar denúncia contra o ex-presidente sob acusação de incitação.

Ainda, a CPI do 8 de janeiro no Congresso Nacional pediu seu indiciamento ao Ministério Público, considerando-o o “ator intelectual” dos ataques e dizendo que ele seria o maior beneficiário de um golpe de Estado.

IBANEIS ROCHA (MDB), GOVERNADOR DO DISTRITO FEDERAL

O governador do DF foi suspenso do cargo por 90 dias, em 9 de janeiro, por determinação de Moraes. Segundo o magistrado, o afastamento do cargo seria necessário para impedir que o chefe do Executivo destruísse provas sobre possíveis omissões que levaram à atuação leniente da PM do DF.

A PF cumpriu mandado de busca e apreensão em endereço do governador ainda em janeiro. Mensagens analisadas pela PF também indicaram que ele e o comando da Polícia Militar minimizaram os indícios de que apoiadores de Bolsonaro invadiriam os prédios dos três Poderes em 8 de janeiro.

Em 15 de março, Moraes autorizou o retorno imediato de Ibaneis ao Governo do DF, mas ele segue investigado em inquérito por suposta conivência com os golpistas.

LULA (PT), ATUAL PRESIDENTE

Lula, que estava em Araraquara (270 km de São Paulo) no momento dos ataques, decretou intervenção federal na segurança pública ainda durante a invasão, e nomeou Ricardo Cappelli como secretário da área até o fim de janeiro. Após voltar a Brasília, fez reuniões com governadores e prefeitos sobre o assunto.

Era contra a instalação da CPI do 8 de janeiro no Congresso, e manteve o posicionamento até a demissão de Gonçalves Dias do GSI com o vazamento de imagens do Planalto. A comissão, idealizada por bolsonaristas, visava fortalecer uma visão de que o governo federal foi omisso com os atos golpistas.

No final de 2023, adotou mensagem de união e reconciliação no país para 2024, após série de falas marcadas por provocações a bolsonaristas.

GONÇALVES DIAS, GENERAL DA RESERVA E ENTÃO MINISTRO-CHEFE DO GSI

O general da reserva do Exército e ex-ministro-chefe do GSI acabou pedindo demissão do cargo após imagens do circuito interno de segurança do Palácio do Planalto vazarem, mostrando atitude colaborativa de agentes do órgão e a presença do ministro no local.

Dias disse à CPI do 8 de janeiro que teria atuado com mais rigidez para evitar os ataques golpistas se soubesse da ineficiência dos agentes de segurança que atuavam na proteção da Esplanada dos Ministérios. Afirmou ainda não ter recebido informes de inteligência sobre possíveis ataques no dia.

FLÁVIO DINO, ENTÃO MINISTRO DA JUSTIÇA

No dia dos ataques, Dino, agora futuro ministro do STF, estava no palácio do Ministério da Justiça e viu a movimentação na Esplanada e a invasão aos três Poderes. Bolsonaristas, então, passaram a alegar inação ou omissão do ministro durante as manifestações golpistas.

Não foi convocado a depor na CPI do 8 de janeiro, mas foi chamado diversas vezes em comissões da Câmara dos Deputados e entrou em discussão com o então presidente da comissão de investigação dos ataques, deputado federal Arthur Maia (União Brasil-BA), que solicitava imagens do circuito interno do Ministério da Justiça, negadas pelo chefe da pasta.

Foi indicado por Lula e aprovado no Senado em dezembro para se tornar o próximo ministro do STF.

ALEXANDRE DE MORAES, MINISTRO DO STF

O magistrado era um dos principais alvos dos apoiadores de Bolsonaro que invadiram os prédios públicos naquela data. Relatou inquéritos sobre o assunto, contrariando em alguns momentos a Procuradoria-Geral da República, e foi alvo de críticas.

Ele também relata todas as ações penais dos golpistas envolvidos nos ataques. Tem votado por penas entre 15 a 17 anos para os que estiveram durante a invasão em Brasília.

Contrariando pedidos da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), os julgamentos têm ocorrido em plenário virtual, o que, segundo o órgão, empobrece a defesa dos acusados.

FÁBIO AUGUSTO VIEIRA, EX-COMANDANTE DA PM-DF

O ex-comandante da PM do DF foi preso em 10 de janeiro por determinação de Moraes, que viu omissão na conduta da corporação e possibilidade de destruição de provas. O militar era o responsável pelo comando da corporação no dia dos ataques, e já havia sido afastado do cargo pelo interventor federal Ricardo Cappelli.

Em 15 de janeiro, disse em depoimento que o Exército teria impedido que houvesse prisões no acampamento ainda na noite dos ataques. Em agosto, entretanto, permaneceu em silêncio durante depoimento na CPI do 8 de janeiro. Ele continua preso.

MAURO CID, TENENTE-CORONEL E EX-AJUDANTE DE ORDENS DE BOLSONARO

O ex-ajudante de ordens da Presidência foi preso em maio sob suspeita de ter falsificado cartões de vacinação de Bolsonaro e familiares. Ele ainda é investigado em casos como o do vazamento de dados sigilosos sobre a urna eletrônica, o das joias e o 8 de janeiro.

À CPI dos ataques golpistas fez um breve discurso relativizando as funções do cargo que tinha no governo passado e depois ficou em silêncio. Em setembro, homologou acordo de delação premiada com a PF e foi liberado por Moraes.

ANDERSON TORRES, EX-MINISTRO DA JUSTIÇA DE BOLSONARO

O ex-ministro de Jair Bolsonaro e então secretário de Segurança no DF foi preso em 14 de janeiro, depois de voltar aos Estados Unidos, sob alegação de omissão ou inação diante dos ataques em Brasília.

Pesam contra ele acusações envolvendo não somente os ataques, mas inquéritos sobre a atuação da PF e da Polícia Rodoviária Federal durante o segundo turno do pleito de 2022, quando houve operações em locais onde Lula tinha vantagem sobre Bolsonaro.

Torre depôs tanto à CPI no Congresso quanto à da Câmara Legislativa do DF. É um dos que tiveram indiciamento pedido pela comissão do Legislativo federal. Ele sempre negou as acusações e foi solto após quatro meses, com uso de tornozeleira eletrônica.

ANTÔNIO CLÁUDIO ALVES DA FONSECA, GOLPISTA QUE QUEBROU RELÓGIO DE D. JOÃO 6º

O mecânico de 30 anos foi flagrado por câmeras de segurança jogando no chão o relógio de dom João 6º durante os ataques golpistas e foi preso por uma equipe da PF em Uberlândia, no triângulo mineiro, em 23 de janeiro.

Agora, aguarda julgamento pelo Supremo pelos crimes de associação criminosa armada, abolição violenta do Estado democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado contra o patrimônio da União e deterioração de patrimônio tombado.

 

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