Cristina Kirchner assume a própria defesa em processo em que é acusada de corrupção na Argentina
A vice-presidente da Argentina, Cristina Kirchner, assumiu sua própria defesa durante as alegações finais de um julgamento em que ela é acusada de corrupção.
Cristina disse que sua intervenção nesta sexta-feira “não é uma concessão graciosa do tribunal”, mas, sim, uma prerrogativa que ela tem por ser advogada: “Se eu não tivesse a sorte de ser advogada, estaria em estado de indefesa diante da extensão do argumento do promotor”, afirmou.
Entenda o processo contra Cristina
O Ministério Público pede 12 anos de prisão para ela e também quer que a Justiça proíba sua participação na política.
O julgamento começou em 2019. Ela é acusada, junto com outras 12 pessoas, de ter direcionado obras públicas para as empresas de um homem chamado Lázaro Báez. Em troca, ele teria repassado dinheiro para ela, de acordo com a acusação. Para os promotores, ela é culpada de associação ilícita e de administração fraudulenta agravada.
Essas licitações de obras públicas fraudulentas teria acontecido na província de Santa Cruz, o reduto político dos Kirchner. O veredicto deve ser conhecido até o final deste ano.
Devido aos seus privilégios parlamentares, ela não pode ser detida, nem ter seu mandato cassado, até que haja uma decisão final do Supremo Tribunal de Justiça.
Para Cristina, processo é conjunto de mentiras
Cristina diz que o julgamento é um conjunto de mentiras, calúnias e difamações. “Estamos diante de um caso claro de prevaricação. O promotor (Diego) Luciani e o promotor (Sergio) Mola mentiram na declaração da acusação”, disse Cristina na intervenção realizada de forma remota, diretamente de seu escritório na Presidência do Senado.
Em agosto, ela pediu ao tribunal uma prorrogação de sua declaração —segundo Cristina, o Ministério Público havia adicionado elementos à acusação, e por isso ela deveria ter mais tempo para elaborar a resposta. A Justiça negou aumentar o prazo, e ela protestou por isso.
Atentado
Cristina disse que a acusação contra ela criou o clima para o ataque que sofreu em 1º de setembro. “Até 1º de setembro achava que isso (o julgamento por suposta corrupção) era para estigmatizar a mim e ao peronismo, para me proibir. Mas a partir de 1º de setembro percebi que pode haver outra coisa”, disse Kirchner, ao mencionar a tentativa de assassinato na qual teve uma arma apontada para sua cabeça que, apesar de ter sido acionada duas vezes, não disparou.
Quatro pessoas foram presas até agora pelo incidente. Mas a vice-presidente, que se referiu ao grupo como a “gangue de autores materiais”, afirmou “que ninguém pode pensar que essa quadrilha idealizou e planejou esse ataque”.
Ela questionou os promotores, a oposição política e a imprensa. Segundo ela, os promotores têm uma “licença social” fazer qualquer coisa.
“Isso é criar um clima”, lamentou. “(Eu) ne sinto muito indefesa, muito impotente”, disse ela em sua intervenção no tribunal que ouviu as alegações finais da defesa, a última etapa antes dos juízes emitirem um veredicto.
O agressor, um homem de 35 anos, conseguiu chegar à vice-presidente camuflado entre centenas de militantes que diariamente se manifestavam em solidariedade com ela nas portas de sua casa, em repúdio ao pedido de condenação da promotoria.