Lula quer retirar militares do GSI e pode vincular Abin a ele

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Lula. Foto: Reprodução / Youtube

Por Paulo Moura

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pediu uma reformulação profunda no modelo de funcionamento do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), único ministério comandado por um militar no Palácio do Planalto.

O GSI passou a ser o órgão mais questionado no primeiro escalão do governo, após os atos do dia 8 de janeiro, no Distrito Federal. No alvo das críticas, a pasta tende a ficar ainda mais desidratada e perder a Agência Brasileira de Inteligência (Abin).

A Abin funciona vinculada à estrutura do GSI desde o governo Michel Temer (MDB), quando o atual desenho da segurança institucional foi estabelecido. Uma das propostas é que fique agora ligada ao gabinete de Lula.

O presidente ainda não se decidiu sobre a nova estrutura. Na disputa pelo controle da agência, Lula foi aconselhado a não optar por esse caminho, de vinculá-la ao gabinete presidencial. Um ministro ponderou que “qualquer operação que dê errado cairá no colo do presidente”.

Lula encarregou o ministro Rui Costa (PT), da Casa Civil, de planejar o novo papel da Abin. Os estudos estão em andamento; inclusive, em discussões reservadas apenas entre ele e oficiais de inteligência. Costa se reuniu na semana passada com o atual diretor interino da Abin para discutir a transferência. O governo estuda uma “saída institucional” para uma decisão que, na prática, esvaziará ainda mais o GSI. O ministro-chefe, general Gonçalves Dias, não participou do encontro.

O petista despachou com Dias no último dia 12, no gabinete presidencial. Na conversa, avisou ao ministro que precisavam “conversar” sobre o futuro da agência, mas não comunicou uma decisão. O destino pode ser encaminhado nesta semana.

“PROTEÇÃO”
Lula está convencido de que uma ala da Abin “protege” o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e conspira contra ele. A ideia é promover um processo de “desmilitarização”, tirando militares da cadeia superior entre si e os oficiais de inteligência.

Logo após a posse, todos os diretores da Abin foram exonerados. O ministro Dias pediu, então, que as dispensas fossem suspensas e revertidas para evitar a paralisação da máquina pública. O presidente avaliou que revogar as demissões foi um erro e tem cobrado explicações do ministro, que foi chefe de sua segurança na campanha e em seus dois mandatos anteriores.

O ministro indicou para a chefia interina da agência o oficial de inteligência Saulo Moura da Cunha. Saulo é pessoa de confiança de Dias e, no que depender do ministro, sairá do cargo de diretor adjunto em breve para assumir efetivamente a direção-geral, o que depende de Lula. O Senado precisa ainda sabatinar e aprovar o chefe da Abin.

Na semana passada, Lula reclamou da inoperância do sistema de inteligência federal, no 8 de janeiro. Disse que houve um “erro elementar”.

– A minha inteligência não existiu – disse.

A Abin coordena 48 órgãos do sistema brasileiro de inteligência.

PENTE-FINO
O presidente demandou um pente-fino no GSI nos próximos dias. Lula exigiu que Dias faça avaliações individuais de todos que ali trabalham e demita os fardados com vínculos a Bolsonaro. Ele já exonerou, de início, os que assessoravam diretamente o antecessor, general Augusto Heleno.

As trocas continuam. O general de Brigada Marcius Cardoso Netto foi nomeado para exercer o cargo de secretário de Segurança e Coordenação Presidencial do GSI. O decreto com a nomeação está publicado em edição extra do Diário Oficial da União que circulou na segunda-feira (23).

Também foi nomeado, a partir deste 25 de janeiro, o general de Divisão Ricardo José Nigri para exercer o cargo de secretário-executivo do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República. Nigri assume o lugar do general de Divisão Carlos Penteado que está sendo exonerado do cargo e passando à situação de adido ao Gabinete do Comandante do Exército.

O general de Divisão Carlos Feitosa, que ocupava o cargo de secretário de Segurança e Coordenação Presidencial do GSI, foi exonerado do posto e nomeado para exercer o cargo de Chefe da Assessoria de Planejamento e Gestão do Departamento-Geral de Pessoal.

Até hoje Lula não entende por que o GSI não se preparou para impedir a entrada de vândalos no Planalto. Na avaliação do presidente, alguém deixou a porta do Planalto aberta para a invasão, uma suspeita de sabotagem.

ATUAÇÃO TÉCNICA
Dias já avisou que vai exonerar todos os servidores, civis ou militares, que estavam diretamente ligados a Heleno. A maior parte deles já saiu. Outras posições, no entanto, foram mantidas, como os secretários do segundo escalão do GSI. A avaliação inicial era de que o núcleo de assessores diretos de Heleno estava mais politizado, enquanto outros fardados na estrutura da pasta atuavam de forma técnica.

O ministro evita ao máximo declarações públicas. Sob pressão, Dias tem dito a interlocutores que, como general reformado, com 44 anos de Exército, está preparado para se defender de “fogo amigo ou fogo inimigo”. Apesar do desgaste, Lula ainda não avançou a discussão para o ponto de substituí-lo, de acordo com ministros petistas. Em duro recado, Lula disse a Dias que ele precisa “assumir o controle” e “tomar conta” da pasta o quanto antes, segundo ministros.

*AE

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